“Os meios de comunicação evitavam abordar o tema porque, antigamente, se imaginava que veicular notícias sobre suicídio incentivava a prática. O problema não está em falar, mas como falar. A manchete deve ser: perdemos mais um ser humano por saúde mental”, afirmou nesta sexta-feira (15/09) o presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), médico Júlio Dutra. A manifestação ocorreu durante a abertura da palestra sobre o tema, que reuniu profissionais da rede de atendimento e lotou o Cine Teatro Fênix.
A palestra, ministrada pela médica psiquiatra Priscilla Maistro, foi uma iniciativa da Prefeitura de Apucarana, através da Autarquia Municipal de Saúde e do Comitê Intersetorial de Saúde Mental, em parceria com a APPSIQ. A palestra integra as ações do “Setembro Amarelo”, campanha realizada nacionalmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina.
O prefeito Junior da Femac afirmou que a palestra, aliada às demais ações da campanha, cumpre fundamentalmente dois objetivos. “Primeiro, é colocar o tema na pauta, mostrando que ele existe e precisa ser enfrentado. O segundo objetivo é capacitar a rede de atendimento para detectar os sinais de que alguém está neste caminho e ajudar a pessoa a sair desta rota”, frisa Junior da Femac.
O presidente da APPSIQ fez uma sensibilização, apresentando diversos números. “O impacto de uma morte por suicídio afeta 60 pessoas ao redor, que carregam uma dor da alma que pode até desenvolver um quadro de depressão”, alerta.
De acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizado em 2019, os registros de suicídio se aproximam de 14 mil casos por ano no Brasil, ou seja, em média 38 por dia. A informação, consta no site oficial da Campanha Setembro Amarelo. Dutra afirma que quem comete suicídio emite sinais a pessoas no seu entorno e também para profissionais da rede de atendimento. “De 100 pessoas que se suicidam, 40 procuraram o médico na semana da sua morte e 75% das pessoas que se suicidaram procuraram um profissional da área da saúde no mês da sua morte”, revela o presidente da APPSIQ.
De acordo com as autoridades, o tema gerou ainda maiores preocupações no período pós-pandemia. Apucarana, além de criar o Comitê Intersetorial de Saúde Mental, contratou psicólogos e colocou à disposição das escolas da rede estadual de ensino. “Há alguns dias, entrei em contato com o prefeito Junior da Femac ofertando vagas para uma capacitação direcionada a professores. O prefeito Junior da Femac logo respondeu, confirmando 100 vagas. Somente Apucarana, junto com Londrina, teve a audácia de levar seu funcionalismo a aprender com os melhores do Brasil”, ressalta o presidente da APPSIQ.
A médica psiquiatra Priscilla Maistro reitera que a palestra teve por objetivo fazer um alerta, a conscientização, a prevenção e levar informações qualificadas. “Também visa quebrar estigmas e preconceitos, incentivando mais pessoas a buscarem o tratamento. O objetivo é fazer com que, principalmente os profissionais da rede, saibam o que fazer diante de uma pessoa que está sofrendo. Esse é um trabalho contínuo, para todos os meses do ano, com o objetivo de salvar vidas. Todo o instante, todo o momento, é uma oportunidade para enviar mensagens de incentivo à vida e à saúde mental, sem preconceito e sem julgamento”, pontua Priscilla.
A palestra foi direcionada a profissionais que atuam na rede de atendimento, como professores e psicopedagogos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, demais profissionais de Unidades Básicas de Saúde, UPA, SAMU e Hospital da Providência, além de profissionais da assistência social, CRAS, CREAS e Conselho Tutelar, Polícia Militar e Guarda Municipal, entre outros.
A abertura da palestra contou com a presença de diversas autoridades, que se manifestaram destacando as ações da campanha e o trabalho realizado pela rede de atendimento. Fizeram uso da palavra o secretário municipal de Saúde, Emídio Bachiega, a secretária da Mulher e Assuntos da Família e presidente do Comitê Intersetorial de Saúde Mental, Denise Canesin, Irmã Geovana Ramos, diretora do Hospital da Providência, e a enfermeira Elisângela Gaspar, chefe da Divisão de Saúde Mental da AMS, além de Aida Assunção, presidente do Núcleo de Apoio à Vida (Naviap).
O QUE DISSERAM AS DEMAIS AUTORIDADES
“A pandemia ficou para trás e agora precisamos cuidar dos reflexos. A saúde mental é um tema complexo e a temática do suicídio é ainda mais. Todo o mês trabalhamos um tema visando a prevenção. O profissional da saúde é capacitado para dar suporte à vida, visando a saúde plena dos pacientes, física ou mental.” – Emídio Bachiega (secretário municipal de Saúde) |
“O comitê existe para fazer a articulação da rede de atendimento, atuando de forma transversal com a prevenção. As pessoas com agravos na saúde mental podem estar diversos lugares, na casa das famílias, na roda de amigos ou no ambiente de trabalho. Precisamos ter a sensibilidade de perceber e depois o manejo de encaminhar” – Denise Canesin (presidente do Comitê Intersetorial de Saúde Mental e secretária da Mulher e Assuntos da Família) |
“Que o setembro amarelo se arraste para todos os dias do ano. A nossa luta com a saúde mental é todo o dia, pois há pessoas que querem tirar a vida a todo o instante. É uma luta de emoção e a gente se doa. Cada vida é importante e muitas vezes, graças ao nosso trabalho, conseguimos segurar essa vida.” – Elisângela Gaspar, chefe da Divisão de Saúde Mental da Autarquia de Saúde. |
“Tem trabalhos que realizamos na vida seguindo o sentido do amor ou da dor. Infelizmente, iniciamos esse trabalho inicialmente pela dor. Eu senti muito perto, do meu lado e a forma que eu encontrei de ajudar meu esposo é ajudar o próximo, é ouvir as pessoas. Se iniciei pela dor, posso dizer que hoje este trabalho me move e é feito com muito amor ao próximo.” – Aida Assunção, presidente do Núcleo de Apoio à Vida (Naviap). |
“A vida passa por diversas tribulações, como aconteceu com a pandemia, e ter uma equipe preparada é fundamental. Perceber os vários sinais que levam a um risco de suicídio exige muito trabalho e a atenção de toda uma rede de atendimento.” – Irmã Geovana Ramos, diretora do Hospital da Providência. |