A meliponicultura, criação de abelhas sem ferrão, começa a avançar em Apucarana. Após a realização de um curso e da formação de um grupo de amigos, agora a atividade ganhou o apoio do poder público municipal. O 1º Encontro de Fomento da Meliponicultura ocorreu nesta quarta-feira (22/05), no Salão Nobre da Prefeitura, e reuniu mais de 100 agricultores. Na oportunidade, foram entregues certificados do curso de capacitação realizado em março e definidos os próximos passos para alavancar a atividade no Município. A criação de espécies sem ferrão não gera riscos aos produtores e pode envolver todos os membros da família.
Os principais objetivos da iniciativa são a preservação das abelhas nativas, educação ambiental e geração de renda a pequenos produtores. “Estamos buscando criar as condições necessárias para os pequenos produtores poderem diversificar suas propriedades. Essa é uma atividade nova e que vamos incentivar, aproveitando os recursos naturais existentes no município e criando mais uma opção de renda”, ressalta João Carmo da Fonseca, secretário municipal de Agricultura.
Além de produtores, o encontro contou a presença de técnicos e representantes do Senar, Seab, Sindicato Patronal Rural e Emater. Os participantes assistiram a uma palestra ministrada por Clailton Roberto Compadre, presidente da Associação dos Meliponicultores do Norte do Paraná (AME-PR), cuja sede fica em Maringá. “No Brasil, há registros históricos de que a primeira exportação foi de mel. Apesar de ser uma atividade antiga, a criação de abelhas nativas ainda é nova, um campo que está se abrindo e que exige conhecimento, conscientização e dedicação”, afirma.
Uma das informações que precisa ser assimilada, segundo o presidente da AME-PR, é com relação à produtividade e rentabilidade. As espécies com ferrão são do gênero apis (africana e europa) e possuem colmeias com 60 mil a 100 mil abelhas, enquanto as nativas, como a jataí, tem no máximo 10 mil abelhas. “Ou seja, numa área que comportaria uma colmeia de abelha com ferrão é possível colocar até 10 colmeias de jataí. Uma colmeia do gênero apis produz em torno de 25 quilos de mel por ano, enquanto neste mesmo espaço as 10 colmeias de jataí produzem, juntas, cerca de 15 quilos de mel”, compara, lembrando que a principal diferença está na rentabilidade financeira. “Os 25 quilos do mel produzido por ano pela colmeia do gênero apis rendem cerca de R$ 300 ao produtor, enquanto os cerca de 15 quilos de mel da jataí rendem R$ 2.000”, salienta.
Com 6 mil toneladas por ano, o Paraná é o segundo estado brasileiro em produção de mel. Além de poder se transformar numa importante fonte de renda, a atividade traz grandes ganhos ao meio ambiente e à cadeia produtiva. De acordo com Paulo Franzini, chefe do Núcleo Regional da Agricultura e Abastecimento (Seab), 80% da produção de alimentos depende da polinização feita pelas abelhas. “Caso contrário a produtividade cairia drasticamente. Há estudos que apontam que a produção de café sofreria uma redução de 60% se não houvesse a polinização”, exemplifica.
COMEÇO – O cultivo de espécies nativas, como a jataí, mandaguari, mandaçaia e mirim, ainda é incipiente em Apucarana. “Em março, realizamos o primeiro curso de criação de abelhas sem ferrão, que reuniu cerca de 15 pessoas. Depois, criamos o Amelipo, que é o grupo de amigos dos meliponicultores”, afirma o farmacêutico Maurício Gregório da Silva, um dos integrantes do grupo.
Na maioria das vezes, o cultivo ainda fica restrito a um hobby e não tem viés econômico. È o caso do agricultor João Carneiro Lopes, que possui algumas comeias em sua propriedade, localizada no Distrito do Barreiro. “São espécies dóceis, que não oferecem riscos. Lá em casa todos mexem nas colmeias: eu, minha esposa e meus três filhos”, conta. De acordo com Lopes, a menor produção é compensada com a quantidade de propriedades do mel oriundo das espécies nativas. “Tem mais vitaminas e aminoácidos”, avalia.