A Prefeitura de Apucarana, através da Secretaria da Mulher e Assuntos da Família (SEMAF), lançou oficialmente ontem (14) o projeto “Quem Ama Abraça: bases para o enfrentamento da violência contra a mulher”. O evento, realizado no polo da UAB, foi marcado pela presença de Schuma Schumaher, a idealizadora da Campanha Nacional Quem Ama Abraça – Fazendo Escola e coordenadora da Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), do Rio de Janeiro.
O lançamento do projeto na noite de ontem culminou com a realização do terceiro módulo do processo de capacitação da rede de profissionais que aderiram à iniciativa destinada a mobilizar crianças, adolescentes e jovens para o debate e superação das diferentes formas de violência contra as mulheres. No total serão quatro módulos, todos programados para acontecer neste mês de outubro. O quarto e último será realizado no próximo dia 22.
“Quem ama abraça” é uma iniciativa nacional promovida pela Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), Instituto Magna Mater e pela Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República e Apucarana foi o terceiro município do Paraná a aderir à campanha, em 2014. Neste ano, no entanto, a SEMAF transformou a campanha num projeto, fato que permitiu estender o tempo de duração das ações. As atividades serão desenvolvidas por um período de 2 anos dentro da grade curricular das escolas públicas e privadas, bem como por entidades que desenvolvem programas, projetos ou ações de socialização.
A proposta da SEMAF foi dar uma nova forma a campanha que, ao se transformar num projeto, obteve a adesão de um público bem mais amplo ligado à atenção as crianças, jovens e adolescentes. Como resultado, o projeto já soma 74 inscritos, entre professores, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, diretores e coordenadores de escolas, entre outros profissionais.
Integrante dos primeiros movimentos de proteção à integridade física das mulheres no país, a palestrante do 3º módulo de capacitação, Schuma Schumaher, lembrou que a violência contra mulher se tornou uma questão pública somente a partir do começo da década 80. “Com exceção de casos mais graves, como assassinatos, ninguém falava sobre esse assunto. A temática não era debatida, não era explicitada e a sociedade fingia que não via”, recorda.
Somente em 1985 foi criada a primeira delegacia especializada no atendimento de mulheres vítimas de violência. “De lá para cá, em termos de política pública na legislação, se avançou muito. No entanto, os números de casos ainda assustam muito apesar de tantas políticas, como a lei Maria da Penha, e muitos municípios terem criado a secretaria da mulher. Obviamente que hoje esse não mais um assunto privado e as mulheres têm mais condições e coragem de denunciar. Os números de ocorrências comprovam essa tendência”, observa.
Schuma defende a necessidade de se promover campanhas como a “Quem Ama Abraça”. “Trata-se de uma formação destinada aos futuros homens e mulheres. O objetivo é que possamos, através da escola, desnaturalizar aquilo que muitas vezes parecer ser normal. Se nasci numa casa onde eu vejo minha mãe apanhando todos os dias, vejo meu irmão mais velho batendo na minha irmã, onde no lugar no diálogo há agressão, eu penso que aquilo é normal. As crianças, desde muito pequenas, estão aprendendo a cultura da paz e que todas as pessoas, independente do sexo, cor e classe social, merecem respeito”, enfatiza.
Schuma elogiou o trabalho realizado em Apucarana no combate a violência contra mulher. “O que acontece em Apucarana é uma das raridades do Brasil. O prefeito Beto Preto, a secretária Denise e sua equipe estão de parabéns. Tenho percorrido muitos municípios do Brasil e não é como aqui. Não existe essa estrutura destinada ao atendimento à mulher vítima de violência. A maioria das cidades não tem apoio do poder público, não tem um organismo de política para mulheres, não tem equipamentos de atendimentos para mulheres”, compara.
A secretária da SEMAF, Denise Machado, destacou que além dos quatro módulos de capacitação da rede de profissionais neste mês de outubro, a formação vai continuar durante os dois anos que duração do projeto. “Vamos ter diversas atividades durante este período. Abraçamos esta proposta. Queremos levar essa temática para as escolas para que nossas crianças possam ter uma mudança de comportamento. Possam entender que não é natural a violência, mesmo que às vezes presencie isso dentro de suas casas. Possam ver nas situações corriqueiras do dia a dia, que as meninas e os meninos têm os mesmos direitos”, argumenta Denise.