O uso de rochas silicáticas – britadas ou moídas – como insumo agrícola foi um dos assuntos abordados no 1º Encontro de Agricultura Sustentável. A temática foi apresentada pelo pesquisador da Embrapa e especialista em geologia, agroecologia e gênese de solo, Eder de Souza Martins. O evento, realizado no salão nobre da Prefeitura, teve a participação de agricultores de Apucarana e de municípios da região.
O prefeito Junior da Femac esteve na abertura do encontro e reforçou que o agronegócio é um dos vetores da economia local. “Apucarana sempre foi um expoente neste setor e até 2013 não possuía uma Secretaria da Agricultura, que foi criada pelo prefeito Beto Preto. Depois vieram programas como o Terra Forte, com a distribuição de mudas frutíferas, calcário e fosfato. E, mais recentemente, o Município sediou o lançamento nacional da colheita da soja e tem atraído investimento de diversas empresas de fertilizantes”, cita Junior da Femac.
O prefeito de Apucarana afirmou ainda que as práticas de agricultura sustentáveis são uma exigência do mercado. “Não é mais simplesmente aplicar agrotóxico para garantir a produção. O mercado, especialmente o europeu, está pedindo práticas sustentáveis. Foram trazidas autoridades no assunto que estão repassando o conhecimento para a tomada de decisão, cabendo ao agricultor avaliar se aplica ou não essa tecnologia na propriedade”, frisa Junior da Femac.
O evento foi uma promoção da Agrobio, empresa de agricultura sustentável sediada em Apucarana, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura. “Devido à complexidade do assunto, o encontro teve um número limitado de participantes. Foram reservadas 20 vagas para produtores de outros municípios indicados pela Agrobio e outras 20 vagas foram preenchidas por agricultores de Apucarana do curso de orgânicos”, explica José Luiz Porto, secretário municipal de Agricultura.
TECNOLOGIA RECENTE – De acordo com o pesquisador da Embrapa, o uso desta técnica na agricultura já é adotada, como a aplicação de calcário e fosfato que são oriundos de rochas. No entanto, a utilização de rochas silicáticas, que possuem em sua composição de 30% até 70% de óxido de silício, é recente no Brasil. “O assunto está sendo pesquisado há 20 anos e aplicação sistemática começou há 5 anos em lavouras de soja e milho, no Estado de Goiás”, explica o pesquisador.
No Paraná, o pó de rocha para recompor os minerais do solo é mais utilizado no oeste Estado. Na região de Apucarana, a tecnologia foi trazida pelo engenheiro agrônomo Fernando de Oliveira Valente, proprietário e consultor da Agrobio. A Agrobio já presta serviços de consultoria a produtores em diversos municípios, como Arapongas, Sabáudia, Marilândia do Sul, Astorga, Maringá e Apucarana.
O uso de rochas silicáticas vem crescendo exponencialmente no Brasil. Somente no estado de Goiás, já existem 250 mil hectares de área cultivada e, em todo o País, são 2 milhões de hectares. “É uma tecnologia que serve para todos os tipos de agricultura, desde a familiar até os commodities”, observa o pesquisador da Embrapa.
Também conhecida como remineralização de solos, a “rochagem” foi regulamentada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2016. “A partir dos marcos regulatórios, já existem 12 produtos registrados”, afirma Martins, afirmando que há empresas de mineração que passaram a atuar neste nicho de mercado.
Com a utilização dos remineralizadores, os produtores estão conseguindo assegurar a produtividade a um custo reduzido. “Eles são ricos em silício, cálcio, magnésio e potássio, por exemplo. Com isso, os produtores estão diminuindo o uso de fertilizantes tradicionais”, assinala o pesquisador.
Entre as vantagens do uso dos remineralizadores, conforme o especialista, estão a melhora na fisiologia das plantas, aumento da proteção contra pragas e doenças, maior eficiência no uso da água, melhor desenvolvimento das raízes, o funcionamento biológico do solo e ainda aumento na qualidade dos alimentos.
REDUÇÃO DE CUSTOS – A “rochagem”, no entanto, não veio para substituir os fertilizantes tradicionais (NPK, calcário, gesso e micronutrientes), mas como uma técnica complementar, reduzindo os custos. “Os fertilizantes tradicionais são solúveis em água, enquanto os remineralizadores são uma fonte insolúvel cujo processo biológico dos microorganismos está associado às raízes das plantas”, explica, acrescentando que a tecnologia cria uma fertilidade de longo prazo do solo.
Os remineralizadores são obtidos através de processos simples, como o desmonte da rocha, britagem, peneiramento e moagem. “Se não for necessário moer e só for feita a britagem, o custo de produção ficará em torno de R$ 20 a R$ 40 por tonelada”, afirma, lembrando que resíduos da mineração e até de pedreiras podem virar insumo agrícola, desde que não possuam materiais contaminantes. “É um custo bastante similar ao do calcário, que hoje está entre R$ 50 e R$ 60 a tonelada”, compara, observando que, caso seja necessário a moagem, o custo de produção da tonelada das rochas silicáticas aumenta, podendo chegar a R$ 100.
Nem todo tipo de rocha pode ser utilizado nesta tecnologia. É necessário fazer um estudo de agrogeologia, que definirá se as rochas são apropriadas para a remineralização. “As rochas silicáticas possuem a tabela periódica dentro delas”, ilustra o pesquisador, salientando ainda que o uso de pó de rocha é indicado para solos velhos, já bastante desgastados. Devido aos custos de transporte, as rochas são consideras como um insumo agrícola regional. “Acima de 300 quilômetros de distância, os custos de logística se tornam inviáveis”, observa Martins.